terça-feira, 6 de abril de 2021

Crianças com paralisia cerebral podem sentir suas pernas e braços?

Apesar de déficits sensitivos estarem muitas vezes presentes na paralisia cerebral, algumas crianças com paralisia cerebral podem sentir suas pernas e braços.
*** 
A paralisia cerebral inclui problemas na função motora de modo permanente (por toda a vida) e não progressivo (não piora com a idade), que afeta o tônus ​​muscular (contração do músculo em repouso), a postura e/ou o movimento. A paralisia cerebral decorre de anormalidades no desenvolvimento do cérebro fetal (antes do nascimento) ou infantil (após o nascimento), podendo ter causas diferentes. Embora a paralisia cerebral em si não seja progressiva, os sintomas podem mudar com o tempo, à medida que o sistema nervoso central (constituído pelo cérebro, cerebelo, tronco encefálico e medula) amadurece. O comprometimento motor geralmente resulta em limitações nas habilidades funcionais (capacidade da criança de realizar as atividades do dia a dia, como falar, comer e andar) e independência, que podem variar na gravidade. Múltiplos sintomas adicionais frequentemente acompanham as anormalidades motoras primárias, incluindo alterações sensoriais, deficiência intelectual, dificuldades de comunicação e de comportamento, distúrbios convulsivos e complicações musculoesqueléticas. A parte do sistema nervoso central responsável pelos movimentos (característica da paralisia cerebral) é diferente da parte do sistema nervoso central responsável pelas sensações (por exemplo, sentir quando é tocado por alguém). Porém, é comum que crianças com paralisia cerebral também possuam a parte sensitiva prejudicada, ou seja, apresentem déficits sensoriais. Existem diferentes tipos de sensações, sendo que dentro das mais prejudicadas na paralisia cerebral estão a estereognosia (capacidade de identificar objetos apenas tocando neles, como pegar em uma caneta com os olhos fechados e saber que é uma caneta), a propriocepção (capacidade de reconhecer sua posição no ambiente, como saber se seu braço está levantado ou abaixado) e a discriminação entre dois pontos (capacidade de localizar onde está sendo tocado, como saber se está sendo tocado no joelho ou no final da coxa). Estudos indicam que a intensidade dos sintomas motores não está diretamente relacionada à intensidade dos sintomas sensitivos, ou seja, uma criança com déficits motores importantes pode ter sua função sensitiva praticamente normal, enquanto outra criança com déficits motores leves pode ter uma perda sensorial grande. Inclusive, crianças que possuem apenas um lado do corpo paralisado podem ter déficit sensitivo também no lado do corpo que não está paralisado. A intensidade dos sintomas sensitivos relaciona-se com a capacidade funcional da criança, ou seja, uma criança com déficit sensorial importante nos membros superiores (braços, antebraços e mãos) terão mais dificuldades para usá-los (como para escrever) do que aquelas crianças que não possuem déficit sensorial. O tratamento da paralisia cerebral normalmente é focado nos déficits motores, sendo os déficits sensoriais muitas vezes esquecidos. A avaliação sensorial das crianças com paralisia cerebral pode auxiliar a construir objetivos terapêuticos e acompanhar a eficácia do tratamento em andamento, com o objetivo de maximizar o potencial funcional da criança.


Referências: 
UpToDate. Glader, Laurie; Barkoudah, Elizabeth. Cerebral palsy: clinical features and classification. Informação atualizada em: 30 out. 2019. Disponível em: www.uptodate.com/contents/cerebral-palsy-clinical-features-and-classification. Acesso em: 4 abr. 2021.

COOPER, Jasmine et al. The determination of sensory deficits in children with hemiplegic cerebral palsy. Journal of Child Neurology, v. 10, n. 4, p. 300-309, 1 jul. 1995. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/7594266/. Acesso em: 4 abr. 2021.

LESNY, Ivan et al. Sensory disorders in cerebral palsy: two-point discrimination. Developmental Medicine & Child Neurology, p. 402-405, 1993. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/8495821/. Acesso em: 4 abr. 2021.

Autor do resumo:
Gustavo José Miranda da Cunha

Revisor do resumo: 
Profa. Dra. Maria Cristiane Barbosa Galvão



Clique AQUI para avaliar esta informação!

Sua opinião nos ajuda a melhorar nosso trabalho.