A violência obstétrica corresponde a atos de abuso e desrespeito à mulher grávida, em trabalho de parto, que acabou de dar à luz ou ao seu bebê.
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Violência obstétrica é o nome dado aos atos de abuso e desrespeito durante um parto. Ou seja, qualquer ato de violência direcionado à mulher grávida, à mulher que está em trabalho de parto, à que acabou de dar a luz ou ao seu bebê, praticado durante a assistência profissional, que signifique desrespeito à sua autonomia, integridade física e mental, aos seus sentimentos, opções e preferências. Algumas situações que podem ser consideradas violência obstétrica são: demora para receber assistência, quando os profissionais da saúde se recusam a administrar anestésicos, maus tratos físicos, verbais e ou psicológicos, recusa de internações, negligência, desrespeito à privacidade e à liberdade de escolha, realização de procedimentos não consentidos, bem como separação mãe e bebê após o parto. Quando são feitos procedimentos não justificados e sem a autorização da gestante, podemos ter consequências graves e que são evitáveis, como hemorragias, hipóxia neonatal, insatisfação da mulher e até mesmo depressão pós-parto. Uma pesquisa feita no Brasil intitulada “Mulheres brasileiras e gênero nos espaços públicos e privados” revelou que uma em cada quatro mulheres já sofreram violência obstétrica. Uma outra pesquisa intitulada “Nascer no Brasil”, avaliou 23.940 mulheres que acabaram de dar a luz, concluindo que o sistema de saúde a gestantes no Brasil é marcado por intervenções desnecessárias e muitas vezes prejudiciais, expondo mulheres e crianças a complicações provocadas no paciente pela má prática médica. Essa negligência acaba refletindo na elevada taxa de mortalidade infantil e materna no país. Além disso, há uma grande discriminação na assistência ao parto. As mulheres mais pobres e também as mulheres negras acabam sofrendo muito mais, precisando muitas vezes peregrinar em busca de vaga hospitalar no momento do parto e implorar para que sejam administrados anestésicos, os quais são muitas vezes negados. Para se evitar a violência obstétrica, o ideal é que haja uma boa comunicação entre a equipe de saúde e a gestante. A mulher deve se informar e deixar registrado quais os procedimentos de sua preferência durante o parto e quais ela não aceita ser submetida. Ter sempre um acompanhante em suas consultas de pré-natal também pode ser uma estratégia de prevenção de violências e atendimentos inadequados durante o parto. Além disso, caso você presencie uma violência obstétrica, denuncie. A denúncia pode ser feita no próprio hospital, clínica ou maternidade em que a vítima foi atendida. Também pode ser feita pelo site do Ministério Público Federal (http://www.mpf.mp.br/servicos/sac), na Defensoria Pública, no Conselho Regional de Medicina ou no Conselho Regional de Enfermagem, ou ligando para o disque 180 (nos casos de violência contra a mulher) e no disque 136 (caso tenha ocorrido no Sistema Único de Saúde - SUS). Pode-se ligar ainda para 08007019656, número da Agência Nacional de Saúde Suplementar, para reclamar sobre o atendimento realizado em plano de saúde. Caso haja algum crime, como lesão corporal ou homicídio, por exemplo, a vítima deve procurar a polícia ou o Ministério Público.
Referências:
Szwarcwald, Celia Landmann et al. Estimação da razão de mortalidade materna no Brasil, 2008-2011. Cadernos de Saúde Pública, v. 30, n. Suppl 1, p. S71-S83, 2014. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/0102-311X00125313>. Acesso em: 29 jan. 2021.Lansky, S. et al. Obstetric violence: influences of the senses of birth exhibition in pregnant women childbirth experience. Cien Saude Colet, v. 24, n. 8, p. 2811-2824, 2019. doi: 10.1590/1413-81232018248.30102017.Acesso em: 29 jan. 2021.
Venturi G, Godinho T. Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado: uma década de mudanças na opinião pública São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, SESC-SP; 2013.
Leal, M.C. et al. Intervenções obstétricas durante o trabalho de parto e parto em mulheres brasileiras de risco habitual. Cad Saude Publica, v.30, n.(Supl. 1), p.17-32, 2014.
Autor do resumo:
Aluno Valeska Lourenço Bergamin
Aluno Valeska Lourenço Bergamin
Curso de Medicina da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.
Revisor do resumo:
Profa. Dra. Maria Cristiane Barbosa Galvão
Departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.