Faltam estudos científicos de qualidade que comprovem o benefício e a segurança a longo prazo do uso de óleo de canabidiol no tratamento do transtorno do espectro autista.
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Apesar de relatos que sugerem benefício com o uso de óleo de canabidiol no tratamento do transtorno do espectro autista (antigamente conhecido como autismo), ainda faltam estudos que comprovem seu benefício e segurança a longo prazo. Apesar do canabidiol ser recomendado para tratar certos tipos de epilepsia em crianças e seu uso parecer seguro (normalmente não ocasiona efeitos colaterais graves), os benefícios do tratamento de crianças com o transtorno do espectro autista permanece incerto. A utilização do canabidiol e derivados da cannabis (maconha) pode promover melhora nos problemas comportamentais (como hiperatividade, ataques de raivas e automutilação), agitação, ansiedade e sono, além de reduzir a necessidade de outras medicações. O canabidiol pode ainda ter benefícios melhorando a interação social e linguagem de crianças com transtorno do espectro autista. Um estudo apontou que a maior parte dos pacientes relatam uma melhora dos sintomas com o uso de derivados da cannabis no tratamento do transtorno do espectro autista. Por outro lado, esse mesmo estudo observou que 1 a cada 4 pacientes tratados com derivados da cannabis desenvolviam algum efeito colateral. Entre os efeitos colaterais, o canabidiol pode deixar a criança mais irritável, inquieta, com pouco apetite e com problemas no sono. Mais raramente, o canabidiol esteve ainda relacionado com o desenvolvimento de psicose grave (alteração do estado mental, podendo ter alucinações e delírios). Apesar disso, os derivados da cannabis, em especial o óleo de canabidiol, parecem ser uma opção bem tolerada, segura e eficaz para aliviar os sintomas do transtorno do espectro autista, porém, seus efeitos a longo prazo ainda precisam ser melhor conhecidos. Ainda estão sendo realizados estudos sobre a segurança e benefícios do uso de canabinóides no tratamento do transtorno do espectro autista, para assim, poder recomendar ou não sua utilização para os pacientes. Portanto, atualmente, ainda não se recomenda o uso de óleo de canabidiol e outros derivados da cannabis no tratamento do transtorno do espectro autista.
Referências:
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Autor do resumo:
Aluno Gustavo José Miranda da Cunha
Curso de Medicina da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.
Revisor do resumo:
Profa. Dra. Maria Cristiane Barbosa Galvão
Departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo